sexta-feira, 15 de maio de 2009

elite

Ontem apareceu um aluno de jornalismo querendo fazer uma entrevista sobre o trabalho com os meninos do Bate Lata. Aquelas perguntas de sempre. Até que lança uma pérola:
-Por que você apresenta essas músicas de eleite para eles?
Elite?
Coitado do Noel Rosa, Assis Valente e Geraldo Pereira. Coitado do Dvajan, do Chico, do Bosco.
Brasileirinho na voz da Baby é coisa de elite. Carmem Mranda cantando Uva de Caminhão é elite. Elis cantando com Tom Águas de Março é elite.
Dei uma respota polida. Alguma coisa que explicava que minha função era mostrar canções que talvez eles não tivesse acesso pela rádio ou tv, mas eu não concordava com a definição " música de elite".
Mas fiquei pensando sobre isso.
Acho que todo mundo tem mesmo o direito divino de apreciar alguma coisa muito boa, de saborear, sentir. Que seja um vinho ou cachaça maravilhosa a uma música muito, muito boa, uma comida bem feita, bem temperada. Todo mundo tem direito a isso. Inclusive os meninos do Bate Lata.
Para provar a minha teoria que coisa boa faz bem a todo mundo, uma das minhas alunas perguntou se eu conhecia "Catavento e Girassol" do Guinga e d Aldir. Tive vontade de carregar ela no colo e sapecar muitos beijinhos orgulhosos. Ela tem quinze anos e mora no Santa Lúcia, mas está aprendendo a ouvir, apreciar, analisar...sentir.
Estou transformando meus alunos em elite.
Quem diria...

6 comentários:

Sandra Maria disse...

Provavelmente, este "fofo" só deve ouvir Banda Calipso, tecno, forro universitário e outras maravilhas da música brasileira ....
Ai, meus sais!

Rafael Torinho disse...

Samba, agoniza mas não morre
Alguém sempre te socorre
Antes do suspiro derradeiro

Samba, negro forte destemido
Foi duramente perseguido
Nas esquinas, no botequim, no terreiro

Samba, inocente pé no chão
A fidalguia do salão
Te abraçou, te envolveu

Mudaram toda a sua estrutura
Te impuseram outra cultura
E você nem percebeu

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Tatiana,

Com toda a certeza, a elite não conhece Catavento e Girassol. A elite, de uma forma geral, não conhece Aldir Blanc e muito menos Guinga. A elite, no máximo, conhece O bebado e a equilibrista, acha que é uma composição da Elis Regina e que é uma música em homenagem ao Chaplin.

Unknown disse...

Música de elite é a que está nos Faustões e Gugus; é a que está martelando nas rádios FM; é a que está batendo recordes de venda porque os direitos pertencem à uma gravadora multinacional. Nessa música é que vai contida, disfarçadamente, a ideologia da elite que tenta "domesticar" a cultura do povo brasileiro de qualquer maneira. Faltou ao jovem repórter um pouco mais de conhecimento sobre o regulamento da indústria fonográfica e da própria mídia, bem como sobre a música popular brasileira e - por que não? - sobre o país onde vive.

Roberto Ney disse...

É tanta deturpação na cabeça desse povo... e logo a música que era para ser universal, agora virou artigo de luxo, hehe!
Espero que esse estudante tenha percebido que as pessoas que ele considera " ralé", provavelmente tem um gosto musical mais requintado que o dele...
abraço!

Tatiana disse...

Acho que o que mais me impressionou foi o fato de um aluno de jornalismo ter colocado essas palavras. Fiquei meio chocada.