sábado, 7 de março de 2009

FIM

E é nessa madrugada que me deparo com você.
Meu sono é objeto furtado.
Não. Objeto perdido nas entranhas do cotidiano e eu caminho pela casa, arrumo na mesma medida que bagunço.
Me bagunço toda quando te acho.
Na gaveta de meu coração desarrumado me deparo com uma foto antiga, o cheiro do tempo encrustado, uma época que já tinha esquecido.
Você.
Cretino. Isso sim.
Uma besta completa, hoje tenho certeza.
Lógico que eu também era uma besta completa por ter e amado do jeito que amei.
Sei lá porque te amei. Carência. Saudade de alguma coisa que nunca tinha vivido. Não sei...
Me lembro de mim ao seu lado. Uma felicidade besta em coisas mais bestas ainda. Felicidade em pequenas coisas, em potes der geléia de morango, em desenhos criados à mão, em canções que eu fazia para você. Como fiz canções para você!
Esqueci todas. Apaguei de mim. Mas assim que seguro a foto nas minhas mãos me pego cantarolando aquela canção. Aquela.
Quase amoleço, balanço, mevejo sorrindo, cretina, mas aí me lembro de seus ataques de ciúme, de suas frases idiotas, da minha vergonha de amar um bobão daqueles. Faço questão de lembrar disso porque minha insônia não é para encontrar uma foto perdida de uma época feliz que passou.
Como fugiu daquela fogueira onde queimei você, minha saudade, sua falta, seu cheiro, meu futuro? Queimei tudo sem dó. E chorei muito também, mas nesse caso, morrendo de pena de mim mesma. Que tipo de demônio é você que se esconde da minha caça às bruxas particular?
Sua bruxa velha disfarçada de homem. Seu merda em forma de papel e passado bom. Seu..seu...seu bundão de merda!
Rasgo a foto em tirinhas finas. Depois em quadradinhos. Canto. Isso mesmo, canto aquela canção baixinho em quanto rasgo em pedacinhos exatos. Não tenho pressa, não tenho pena, não tenho remorço. Rasgo até ficar tudo bem miudinho, um monte de confete de nós dois. Pego tudo e coloco no prato, jogo álcool, taco fogo. A labareda me pega de surpresa e quase me queima as sobrancelhas. Mesmo em foto, rasgado, afogado em álcool e sendo queimado continua tendo reações dramáticas. Besta.
As cinzas são pretas e flutuam quando respiro. Varro tudo e jogo no vaso sanitário.
Junte-se aos seus, penso enquanto dou descarga.
Me sinto leve, forte, decidida.
O computador brilha e eu vou abrindo pastas.
Dou de cara com outra foto de outro antigo amor. Não é possível. Eu jurava que tinha apagado tudo! Merda.
O que é isso? Convenção dos excluídos? Reunião dos ex-amores? Sessão espíritas com os mortos-vivos? Revoada de eguns??
Tem nada não! Eu mato outra vez. Quantas vezes for necessário, eu mato cada um de vocês. Mato, exorcizo, cuspo em cima, mijo, piso, varro, afogo, sangro.
Não lembro de nada. Não penso em nada. Não canto nada. Simplesmente aperto o " delete" e lá se vai outro amor...Menos teatral , mas também muito eficiente.
Fecho a noite com um sonoro " vai tomar no cu, vocês todos!", dou uma dançadinha pelada, a velha e boa dança da libertação, e durmo como anjo.
Do lado da cama um galho de arruda ajuda a afastar assombrações e no meu peito um buraco limpo e bom começa a fechar. Outra vez. Mais uma vez. De certa forma, estou feliz.

9 comentários:

Menininha bossa-nova disse...

Bonito (fora a parte da dancinha pelada, hahaha). Hoje eu me permiti lembrar como era na época de um fantasma meu, e vieram sensações tão ruins que eu achei bom estar onde estou. Acho que tô curada.

Ju Hilal disse...

Ê laiá...Amores...
"Junte-se aos seus" foi bom demais!
Hahahaha
Isso mesmo, mulher. Queima, deleta e joga na privada.
Bora sambar com os bezerrinhos.
Beijo

Tatiana disse...

Bossinha Novinha

Preciso urgentemente te ensinar a dança da libertação!!!!

Tatiana disse...

Bocão

"Bora" é muito engraçado!

N. Calimeris disse...

Nossa, tinha que ter a parte de me fazer rir e lembrar que eu também queimei, joguei fora e parti e limpei o coração.

figbatera disse...

Hehehe! Seria cômico se não fosse trágico...

Tatiana disse...

Georgiana,
Queima tudo!!!

Tatiana disse...

Fig
Hoje só é engraçado, não é mais trágico e isso é que é bom!

Anônimo disse...
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