Cuidados com a tatuadora

Já que comecei essa merda, vamos até o fim.
Passei a madrugada da sexta fazendo o búfalo no pescoço e doeu pra cacete! Mas estávamos na casa da minha querida e paciente Talita. Telecine passando um filmezinho besta ( vi dois!), cigarrinho, cervejinha.Vamos parar pra pitar um cigarrinho? Vamos...E parávamos. Pizza da padoca perfumando o ambiente, gatinha saltitando em volta. Do jeito que eu gosto das coisas.
Resolvi fazer enquanto voltava do clube, cheguei na casa dela com roupa de ginástica, uma fome animal e decisão sobrando.
Aí percebi que eu estava fazendo um " composê", uma combinação de símbolos com uma intenção específica, mas que com a entrada do búfalo desequilibrou o " todo".
Tem que acertar aqui em baixo. Para equilibrar.
Idiota que sou, estúpida que sou, besta que sou ligo pra ela segunda ( !) e marco a outra, no estúdio. Nem tinha deixado de doer o pescoço e lá estou eu mostrando a bunda pra Talita.
Tinha um espelho que se e virasse o pescoço conseguia vê-la praticamente com a cara enfiada no meu rabo. Uma cena dantesca. Mas relevei diante da minha decisão de levar a cabo minha intenção.
Na primeia agulhada, desisti.
Que que eu tô fazendo aqui nesta merda outra vez?
Tenho uma fama a zelar e não ia amarelar logo assim de cara.
Na primeira hora eu só fazia careta.
Entrando na segunda eu descobri que xingar a tatuadora é muito relaxante.
Vaca. Doente. Sádica. Filha de uma puta manca. Depravada.
Relaxante mas não anestesiante.
Aí começam a aparecer outros tatuadores pra dar uma olhadinha.
Eu irritada.
Tá olhando o que, ô gibi ambulante, pensava eu.
Vai olhar a bunda de tua mãe, meu filho.
Não, não tá doendo nada, eu to fazendo essa cara de cu porque to fazendo exercício facial. É claro que tá doendo, caralho!!

Agora vamos cobrir com traço mais grosso.
O QUE??? Deixa o traço fino mesmo, Talita, e amo traço fino, precisa mais não, tá linda, tá ótima, eu amei, eu juro que eu amei! Eu nã quero traço mais grosso não!!
Talita, sádica confessa, nem me deu bola e disse que de jeito nenhum. Tinha que cobrir com a prra do traço mais grosso. E mulher mansa quando diz " de jeito nenhum" com aquele olhar, nem eu tenho coragem de discordar.
Vai pra puta que pariu quem inventou esse negócio de fino e grosso.
Quinze minutos. Quinze minutos foi máximo que eu aguentei e me deu um siricutico e eu falei
pára com essa merda, vai enfiar agulha no rabo de tua mãe que eu cansei de levar espetada. Eu vou é pro bar tomar uma cerveja que eu cansei.
Daqui a dez dias a gente acaba esta merda e eu juro por tudo que é sagrado desse mundo que se eu resolver fazer mais uma tatuagem, mais umazinha, por menor que seja,vou deixar me darem um cacete bem dado no pé da orelha porque eu mereço.
Agora é pomadinha, plástiquinho, fita crepe e todo mundo, TODO MUNDO QUE EU ENCONTRO, tasca a mão bem em cima ou da tatuagem do pescoço ou na da altura dos rins. Se não bate em uma, bate na outra.
E eu com um sorriso congelado e uma cara de merda porque quem resolveu começar esta coisa toda fui eu mesmo. Não dá nem pra xingar alguém.
Menos a Talita, é claro. Ela eu posso xingar à vontade porque ela sabe que não é pessoal.
Né, Vaca???
Vaca no sentido mais relaxante e terapêutico, viu, querida??


O búfalo que foi chamado de Boi Zebú por um músico metido a engraçadinho. Pensei em dizer que era a a tatuagem da cara da mãe dele. Mas seria maldade com o búfalo.




A Vaca. Ops...a Talita.
E logo a baixo. A besta.
Eu.