segunda-feira, 8 de setembro de 2008

os doidões da noite e o xale

Eu não tocava naquela noite e saí disposta a ser " cliente" e não fornecedor de serviço. Já tinha ensaiado, já tinha feito a minha obrigação, era meu momento de diversão merecida.
Sem estar trabalhando podia colocar aquele decotão mais avassalador, o vestido que deixava as costas de fora porque na hora do samba, que o pau quebra, faz um calor danado. Mas eu me conheço e nunca saio sem algum " paninho" que me cubra as costas da friagem da noite. Para aquela noite, meu xale rosa-chock que cobre quase até as pernas.
Tava podendo.
Sambei e suei à revelia. Cantei junto com a banda todos os sambas que eu sabia e completava todas as frases dos sambas desconhecidos.
No fim da noite, cansada, suada mas feliz, resolvi dar uma descansada nos maltratados pés e finalmente sentei. O bar já esvaziando e eu, sozinha, tomando minha cerveja, aproveitando esse momento, o xale cobrindo meu corpo todo.
Me surge um ser muito doido. Básico mas sua cara era de doidão mesmo e resolveu que ia me analisar. Dizia-se um tipo de vidente, uma sensibilidade acima da média. Era só bater o olho em alguém que toda a história vinha em sua cabeça. Um dom, certamente.
Conheço bebum de longe e minha reação naquela noite foi simplesmente ficar olhando pro cara. Séria, sem mostrar nem medo, nem aversão, nem simpatia. Só olhando.
Pelo meu sapato de bico redondo e salto grosso intuía que eu era uma mulher prática, objetiva, mas que não abria mão de um pouco de vaidade.
Ponto pra ele. Eu também reparo em sapatos e tiro as minhas conclusões estapafúrdias.
Eu deveria ser advogada, juíza porque não tinha problemas em estar sentada sozinha em um bar.
Me imaginei juíza e me deu vontade louca de rir. Não ri não! Tava no personagem enigmático.
Uma mulher que gostava de se proteger ( o xale), cuidadosa e previdente. Básica sem excessos de maquiagem. Ou seja , eu era honesta!
Comecei a achar que o cara até que podia ter o talento mesmo!
Não era dada a excessos, ( hahahahhahahah), devia ser de capricórnio ou virgem ( passou de raspão, o filho da puta), devia ter previdência privada ( nem pago o carnê de autônomo) e morria de vontade de fazer uma pequena loucura um dia em minha vida.
Nessa hora me olhou com aquela cara de " a loucura sou eu, meu bem, agora é a hora de soltar a franga e provar que eu to errado!".
Eu não disse uma palavra até aquele momento.
Meio que parecendo marca de cimema, meus dois novos amigos que estavam pagando a conta durante toda aquela conversa, voltaram para a mesa. Um negão de quase um metro e noventa e um branquelo com cara de nerd bêbado. Um dupla esquisítissima mas muito divertida. Conheci naquela noite e tinham sido excelentes companheiros de samba. Nem me lembrava o nome deles.
Me levanto e o bebum fica quase um palmo abaixo da minha cabeça. Me viro pra receber meus amigos e deixo xale cair e mostrar as costas tatuadas de cima a baixo. A boca do bebum abre.
Me inclino pra ele e digo que hoje eu não podia porque ia acabar a noite tomando um ácido no alto do Pico das Cabras com meus dois namorados e certamente seguiria para São Paulo para tatuar os nomes deles em cada bico do peito. Seria meu novo sucesso já que eu trabalhava como dançarina exótica lá na terra da Garoa. A cobra albina estava no carro fazia tempo e já devia estar meio estressada e eu precisava soltar ela um pouco antes que ela atacasse alguém.
Meus novos amigos sacaram na hora que alguma coisa acontecia e ficaram sérios e calados ao meu lado e eu pude sair em grande estilo, de braços dados com dois desconhecidos, morrendo de rir, e ainda ouvi o bebum dizer pro graçom que é meu chapa:
-Caráio, aquele xale me fudeu!

hahahahhahahahahahahahhaha

6 comentários:

Anônimo disse...

Tatiana Stone
Teus textos continuam ótimos e hilariantes.Parabéns !!!

Anônimo disse...

...A propósito, tem um presente pra vc lá na http://www.ahoradoclick.blogger.com.br
Beijão.

Menininha bossa-nova disse...

Hehehe, tá vendo? Se eu não tivesse ido embora, podia ter presenciado essa história... Mas a vida é assim.

Beijão e fica calma com o lance do infantil!

Mas eu sei q não adianta falar...

marcio castro disse...

que saudade da espontaneidade da tatiana rocha! beijos queridona! saudades mesmo!

marcio

Eduardo disse...

Isso foi bom, muito bom!!!

Adoro cada vez mais esta persona... Um dia, quero conhecer a pessoa.

Beijos

Tatiana disse...

A pessoa tá aqui, meu bem.
É bater na porta, pedir licença e ir chegando.