segunda-feira, 23 de junho de 2008

E o Inverno chegou

Já estamos no inverno. O frio bate a porta, as cobertas saem dos armários, o consumo de energia elétrica aumenta, é um festival de caldinhos, sopinhas, creminhos.
Bebidas quentes e bebidas quentes por serem alcóolicas. Vinhos, conhaques, saquês.
Parece super charmoso, não é?
Parece mas não é.
Eu definitivamente não me acostumo com o frio.
Sofri muito quando vim morar em Campinas, saindo de Salvador. Para mim dezoito graus era o mais frio que eu tinha sentido na vida toda e aquele casaquinho de crochê que minha avó tinha feito para minha mãe há muitos anos era mais que o suficiente para enfrentar qualquer inverno. Em Salvador não faz frio, simplesmente chove e a gente sai com todas as capas, casacos, tudo fedendo a gaveta, achando o máximo usar " roupa de frio".
Eu era uma besta em matéria de inverno.
Cheguei aqui em março e peguei de cara uma frente fria que bateu dez graus bem no meio da minha fuça. Claro que peguei meu único casaquinho, aquele que minha avó fez, cheio de charmosos buraquinhos, subi na minha moto e segui em direção à UNICAMP, achando que estava arrasando com meu casaquinho de crochê, cheio de buraquinho. Quase morri. Não tinha luva, minha meia era fininha, os buraquinhos do casaco permitiam que um vento muito, muito frio entrasse na minha alma e eu tremia tanto que meus dentes doíam.
Foi a única vez que chorei de frio em toda a minha vida. " O que que eu vim fazer nesta merda de terra?".
Como meu sofrimento foi tanto, resolvi que deveria comprar casacos, cachecóis, blusas de lã, tudo que me ajudasse a ficar mais aquecidinha. Errava na mão, botava pano demais em cima de mim, suava por de baixo de tanta roupa. Demorei um tempão pra aprender a me vestir no frio.
Nunca acordei e disse "ai que delícia! um friozinho bom!", porque eu nunca achei frio bom.
Para tomar banho é um tormento. Ficar pelado com um frio desses é desumano e eu acabo entendendo os europeus que não dão tanta bola pra esse negócio de banho. Mas a voz de minha mãe retumba sobre minha cabeça. " Sugismunda! Sugismunda!".
Minha mãe, mesmo ausente, sempre me levava pra tomar banho. Um tipo de encosto materno da higiene pessoal. Eu nunca tive aquecedor mas sempre tive latinhas com álcool que eu botava no meio do banheiro para ver se facilitava o banho. Uma vez o frio era tanto, mas era uma coisa tão terrível que eu queimei a própria bunda na latinha de álcool.
Esquentei muitas camas com ferro de passar roupa e já dormi com casaco fechado até o pescoço.
Voltar depois do trampo, na madruga, com frio, chuva ou neblina é uma coisa que não tem graça nenhuma. De moto então, é a imagem mais próxima que eu tenho de inferno.
Eu tomei vários porres por causa desse negócio de tomar conhaque para esquentar. Não sei beber, nunca soube e no inverno eu sei menos ainda. No fim eu tô com frio ainda, bêbada e com uma conta alta pra cacete pra acertar no caixa. Mais pobre, menos elegante e ainda com frio.
Não entendo como é que eu fiz meu filho mais velho no fim de julho. Devia ser um julho atipicamente quente. Ou brinquei de cabaninha e de médico tomando canelinha pra esquentar e deu no que deu. Não é possível ter fogo no rabo com um frio dos diabos regelando o mesmo rabo.
"Péra um pouquinho, péra um pouquinho! Cobre o pé, o pé tá de fora. Não, não, isso não porque a bunda fica descoberta. Ai, desencosta essa mão fria daí, caramba! Porra, não dá pra ir direto ao ponto? Cacete, que pé frio, parece um defunto".
O inverno a gente engorda.
No inverno a gente é bege.
No inverno a gente engana e é enganado. Fica todo mundo lindo, elegante, charmoso. É só tirar a roupa que o susto vem e já não dá mais pra desistir. No inverno somos todos elegantes. Por fora.
No inverno a solidão bate mais forte e a cama fica muito maior.
No inverno percebemos que somos um bando de merda diante do poder da natureza.
No inverno eu toco mal violão porque os dedos reclamam e eu acho horrível aquelas luvas sem dedos.
No inverno minha voz demora para esquentar e eu tenho que usar de tudo que sei para parecer uma cantora decente e afinada.
O inverno me faz lembrar a Isadora Duncan e eu tenho medo de morrer esgüelada pelo meu cachecol.
No inverno eu me engancho em todas as maçanetas porque descobri que gosto de xales e panos grandes. Eu me enrosco nas coisas e derrubo tudo à minha volta. No inverno eu viro um rinoceronte na cristaleira.
No inverno eu sinto uma saudade imensa da minha terra e odeio muito a minha mãe que me liga dizendo que está negona, um cor linda, que está um sol de lascar pelos lados de lá e que inclusive falava comigo enquanto bebia uma cerveja geladérrima, comia peixe frito e ainda, para foder de vez, isso tudo acontecia com ela sentada em uma cadeira DENTRO de um rio de água fresca e limpa.
Não adianta.
Eu não suporto esse frio todo.
Não adianta.
Sou do verão, da primavera e do outono. Mas o inverno é muito cruel com essa falsa baiana aqui.
Deus, esquente o mundo, por favor porque eu to gelando!

2 comentários:

Cristiano Gouveia disse...

o mundo esta esquentando...é o tal do aquecimento global...rs

Tatiana disse...

atualmente não acredito no aquecimento global.
meus pés, princialmente.