Uma mulher às vésperas de menstruar tem a mão pousada em uma espada invisível. Mesmo com a mão imóvel, o tempo ainda estático, ela pode ver corpos sendo cortados, vísceras ao chão, gritos de dor. Dos outros, obviamente.
Uma mulher às vésperas de menstruar pode ser muito cruel mesmo que seu sorriso seja doce e seu olhar manso.
Todo sangue acumulado dentro dela é a não vida. É aquilo que poderia ter sido, mas que não foi. É um mundo de possibilidades desperdiçadas.
É um tipo de morte.
Eu tenho em mim a vida e a morte. Tenho o luto da minha intenção natural de me multiplicar. Eu sofro sem saber que estou sofrendo. Na verdade é a pura e simples dor da morte e do renascimento.
Todo mês eu morro, de alguma forma. Meu sangue é a vida que não foi. É a morte que habita em mim e que eu acostumei a conviver com ela. Eu, antes de menstruar, sou a morte de saia e com um sorriso plácido na cara.
Eu sou a morte. E eu morro dentro de mim.
E como não gosto de ficar só, não quero morrer sozinha.
Então é melhor não cruzar muito o meu caminho. Posso te levar comigo.
Uma mulher antes de menstruar pode ser realmente perigosa.
Mantenha uma distância segura, não me provoque e me deixe aqui, eu e minha espada cega.
Vai passar.
Porque sempre passa.