quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Me pediu os pés.
Não dou.
Não dou meu futuro que meus pés escondem.
Não dou a textura de meus dedos em sua carne.
Não te dou o peso de meus pés em suas costas.
Não te dou nada que venha de meus pés.
Meus pés são mais íntimos que minhas exploradas mãos, que todos vêem, que todos tocam, displicentemente, como quem nada quer.
Mas querem.
Querem meus pés insanos, chutando o ar.
Querem meus dedos minúsculos navegando em saliva e se enroscando em palavras e soluços e torturas de cócegas e língua.
Não te dou nada disso.
Não te conheço para te dar meus pés escondidos e envergonhados.
Não te dou os caminhos que eles fizeram.
Não te dou o mapa do meu passado.
Não te dou meus gemidos quando os dedos escorregam pela sola cansada e apertam aquele ponto que amolece as minhas pernas e libertam meus juízos.
Não te dou meus pés.
Não te dou nem meus tornozelos, nem as pontas dos meus joelhos, nem o suor das minhas coxas, nem os vãos escondidos da minha saia.
Só te dou a imagem congelada e que não é nada além de sílica ou papel.
Sirva-se disso.
É o que terás de mim.
Porque meus pés...meus pés são de quem sabem conquistar todo o território. Não de quem quer somente meus pés.

Nenhum comentário: