sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Umbigo

Sou artista.
Componho como uma louca.
Escrevo sem pensar no que escrevo.
Sai tudo em golfadas, em jatos de mim, escorre sem que eu veja porque minha cabeça é um turbilhão de idéias e meu corpo me mostra as sensaçõess que eu tenho, o tempo todo, o tempo todo são sinais de mim para mim.
Meu corpo todo.
Minha pele arrepiada.
Minha alma.
Meu peito inchado na TPM e na delícia.
Eu tenho que prestar atenção em mim porque se eu me perder de mim, quem me cata, quem me junta, quem me pega pela mão e diz " vem por aqui"?
Eu tenho que ficar atenta às músicas que saem de mim. O que me dizem? Por que me atormentam assim? O que tem dentro de mim que só se mostra pelas mínimas e semi-mínimas da canção? O que se esconde de mim e que só se revela quando eu canto?
Não sei.
Preciso olhar para dentro de mim.
O que faço com tudo que produzo?
Esses filhos que tenho, que gero, que boto no mundo?
O que quero com isso tudo?
Não posso me distrair, não posso mergulhar no buraco negro do meu umbigo de artista, não posso ser engolida por mim mesma. Mas também não posso me esquecer de quem eu sou e do porque que eu to aqui.
Olho meu umbigo.
Olho dentro do meu umbigo de artista e ali tem um mundo imenso e ali também está amordaçado o pior do demônios: a vaidade.
Esse é o demônio de todo artista e olho para ele com respeito, um certo medo, mas vou corajosa, meio trêmula, mas olho no olhos dele e não abaixo o olhar.
Ele me fita, cínico. Sabe que tem poder mas eu também tenho o meu. Meu poder está dentro do meu umbigo.
A morada da minha força, da minha identidade.
Meu umbigo negro e imenso.
Meu umbigo cheio de rugas e reentrâncias.
Meu umbigo, tarracha de mim que me prende naquilo que eu acredito ser e quero ser.
Meu dedo segura o buraco do meu umbigo para que não quebre a muralha que segura as águas da minha alma cheia de humanidade.
Me olho no espelho, levanto a camisa e revelo meu umbigo.
O centro de mim.
Um buraco negro de mim.
Meu umbigo.
A morada do demônio.
Mas é também a casa da minha luz de cigarra. É onde guardo a minha vontade de fazer a diferença, de espalhar lirismo e poesia, de ser canção e riso, de ser aquele instante que tudo se transforma e eu percebo que fiz o que vim fazer.
Ah, amado umbigo. Como você é povoado, né?
Te faço umas cosquinhas e te vejo gargalhar e rio junto contigo.
Ah, meu amado umbigo. O que seria de mim sem você?

2 comentários:

Anônimo disse...

UMBIGUDA!!!

Claudia Lyra disse...

Putz... vai ser intensa assim lá em casa, viu! Caraca... quando você escreve assim, fico embasbacada.

Ps - Tô numa gripe do raio, Tatiana, tô moída... ai, ai, quero te ver de peeerrrrtoooo!!!! Que saco isso...