quinta-feira, 5 de abril de 2007

Vinha eu andando pela rua quando vejo uma coisa branca arriada em frente ao meu portão. Um sentimento de ternura toma conta de mim mesmo antes de eu conseguir identificar o que é.
Quase caí para trás quando percebi quem era.
O Coelhinho da Páscoa estava desmaiado em frente a minha casa e eu, receando que alguém o atropelasse, levei para dentro de casa.
-Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim? - pergunto, ansiosa.
Nada. Nenhuma resposta. Ele estava desfalecido.
Oh, meu Deus do Céu, Santo Pernalonga, o que será da Páscoa sem o Coelhinho?
Movida pelo sentimento pascoal mais puro, resolvo fazer respiração boca-a-boca no coelhinho. Barriga para cima, patinhas para o lado, empurro o queixinho um pouco para trás, abro a boquinha, faço biquinho e assopro. Fuuuuu! Massagem cardíaca! Um, dois , três, assopro, fuuum!
A barriguinha dele incha, fica imensa, solta um peidinho, fuuuummm, três apertadinhas, assopro a boquinha, a barriquinha enche, um punzinho, nada dele voltar. Me desespero, pego o coelho e soco dentro do tanque cheinho de água com sabão. Aproveito que ele está desacordado e dou uma alvejada no pelo do bichinho, ponho aquele produto rosa que custa os olhos da cara, menina que loucura, limpa tudinho, esfrego, esfrego, molho, torço e quando estou a instantes de pendurá-lo no varal, ouço um gemidinho:
- Uhgdt...
-O que? - pergunto, meu corpo treminha de medo que ele não sobrevivesse.
-Ti..orth...re....gghk...
-Fale mais alto, meu querido, não to te entendendo - pisco para ele, cheia de ternura.
- Tire a porra do prendedor do meu saquinho...por favor...aiiiii...

Que emoção! Ele estava ali, recuperado, voltando a si.
- O que aconteceu com você, doce coelhinho, por que estava assim, todo arriado, todo sujinho?
-Fui atacado!
-Mas como? E você não conseguiu fugir?
-Não, eu comi uma cenoura, com casca e tudo, tão grande ela era que fiquei barrigudo. Não consegui fugir. Só conseguia ficar rolando de um lado para o outro.
-Que horror, amiguinho! Tá se sentindo melhor?
-Sim! Mas roubaram toda a minha carga de ovos de Páscoa! E agora? O que será de mim?
Era de cortar o coração ver aquele coelhinho tão fofinho, soluçando, os ombrinhos subindo e descendo, completamente arrasado. Tadinho. Uma lágrima cor de rosa estava prestes a cair no chaõ.
-Tó, coelhinho, tó essa xícara de café para te ajudar a retomar as forças.
Ele virou de uma vez .
-Dá mais! - bateu a patinha na mesa.
Eu dei.
-Desce outro! Me dá mais! - dois olhões abertos me fitavam. E eu dei, dei que dei, mas sempre dei por amor.
E aí, bem e aí a coisa ficou feia aqui em casa. O bicho ficou doido, acho que cafeína faz mal pra coelho, sei lá o que aconteceu, mas só sei que ele começou a me olhar estranho.
-Que olhos vermelhos você tem, coelhinho? Tá olhando o que? Que cara de tarado é essa coelhinho? Coelhinho? Que porra é essa, coelhinho? Coloca esse negócio para dentro de novo! Socorro!
- Vem cá, minha nega! Que eu te trouxe, um ovo, dois ovos, três ovos assim, ó! Azul, amarelo e vermelho também! Assim, vem cá minha filha! Deixa eu mostrar os ovos do coelhinho! Aliás, coelinho o caralho! Sou o coelhão! Vem cá, gostosa!
- Acudam! Acudam! Um coelho tarado e drogado está querendo roer minhas partes!
Os gritos eram altíssimos, eu me equilibrava em cima do liquidificador, que já trincava, quando vejo entrar pelo portão, ele, meu salvador.
Hermeto, meu gato branco e maluco, ouvindo minhas berradas súplicas de ajuda, veio em meu encontro. Estava vestido a caráter com suas botas lustrada que reluziam, ofuscando meu olhar. Veio dando aquela rebolada de gato que eu bem conheço, veio que veio. Ai, tava uma coisa meu gato de botas.
Quando o coelhinho da Páscoa percebeu a sua aproximação, pegou um pedaço de pau. E pum! Atirou o pau no gato to, mas o gato to não morreu! Não! Vocês acham que é assim fácil matar um gato? Não é não! Hermeto deu um salto mortal encorpado duplo para trás, fugiu do golpe. O pau passou raspando por sua cabeça.

Tila, a minha cachorra mais fedorenta do mundo, vendo o pedaço de pau, levou um susto da porra e mostrou os dentes para o coelhinho. Este, esperto como ninguém, começou a cantar bem rápido " apanhar a bola la la , estender a pata ta ta, sempre exercício cio cio , sempre equilíbrio brio brio". A besta da cachorra ficou presa na primeira frase. Cadê a bola? Cadê a bola? E corria de um lado pro outro do quintal procurando a bola que não existia. Tá até agora lá.
Eu, trêmula, antevia meu fim. Viraria guizado de coelho.
Oh, que triste desfecho!
Mas que nada! Sai da minha frente que eu quero passar - berrou Hermeto Pascoal, meu gato maluco - Ninguém ousa bater na minha nega, isso não é direito, bater numa mulher que não seja a sua!
Ai, que cafajeste este meu gatão. Só de lembrar eu to toda arrepiadinha.
Imagine a cena.
Meu quintal.
Alguns cocos de cachorros.
Um sol inclemente.
De um lado, meu gato branco de botas. Lindo de morrer.
Do outro, o Coelhinho da Páscoa, doidão e cheirando a Confort brisa do mar. Um ridículo bigodinho com a marca do café. Ele tremia e tinha um olhar insano e cruel.
Um par de olhos vermelhos.
Um par de olhos verdes.
Nenhuma folha se mexia.
Os dois se encarando. Pude imaginar o que aconteceria. Um frio na espinha me fez tremer e juntei minhas mãos no peito e comecei a rezar.
Foram andando, lentamente foram chegando perto, e mais perto ainda e ainda mais perto. Olho no olho, focinho no focinho.
Foi aí que aconteceu o inimaginável. O Coelho doidão tascou um beijão de língua no meu gato Hermeto, pegou ele pela cintura, deu aquela deitadinha para trás, meu gato Hermeto, pego de surpresa, ficou de boca a aberta. E de pernas bambas. Num piscar d eolhos, o Coelho comeu ele doze vezes. Deu doze sem tirar de dentro. O gato gamou, né? Fazer o que?
Agora eu tenho no meu telhado um gato viado e um coelho drogado que acha porque acha que meu Hermeto é a coelhinha da Playboy mais gostosa do mundo, estão se acabando de lá em cima, eu aqui arrasada, acabada, maltratada e torturada com os caminhos que essa história tomou.
Não sei o que vai ser da Páscoa, não sei, não sei , não sei mesmo.
Porque agora mesmo eles estão as berros cantando Noite Feliz, Noite de Paz, enfernizando os vizinhos, esculhambando os feriados nacionais, trocando tudo e eu to a mais de três horas tentando convencer o meu gatão lindo que o Coelho só que se aproveitar dele, que depois que a Páscoa passar ele vai embora e que só vai trazer sofrimento, que esse amor é um absurdo.
Mas eles fingem que não me ouvem.
Então já sabe, né?
Se não aparecer ovo de Páscoa em tua casa a culpa é desse coelho tarado que se vinha pela estrada a fora, vinha bem sozinho, levar os ovos para o povo e foi atacado, depois tomou um gole de café e ficou doidão.
Só me resta pegar o violão e tocar pra o mundo:
Chocolate
Chocolate
O que eu quero é chocolate
Não adianta vir com guaraná pra mim
Chocolate é o que eu quero beber
Chocolate
Chocolate!!!!!


FIM

7 comentários:

Ana Paula Xavier disse...

AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
PUTAQPARIU!!!!!
o pior é q eu imaginei mesmo . tudinho...ahahahahahahahahahahaha
to rindo até agora da Tila... "cadê a bola? cadê?...
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA...

Anônimo disse...

rsrsrs
Já estou preparada para não receber nenhum ovinho de páscoa...rsrsrs

Anônimo disse...

Valente Guerreira, e dificil fazer um comentario, estou rindo esta historia esta otima....Ainda bem que na Espanha o coelhinho nao chega e nao vou cruzar com o coelho maluco...

Feliz Pascoa, com coelho doido, gato viado e e com a cadelinha Tila...
Beijinho carinhosos do outrto lado do oceano

LIRIS LETIERES disse...

TATI MINHA VÉA, ADOOORO QUANDO VC SURTA!
FICO IMAGINANDO ESSE "TANTINHO" DE MULHER SOBRE UM LIQUIDIFICADOR!!!!
ÓTIMO!

Anônimo disse...

Minha amiga... o que foi que vc andou tomando????? a última que surtou com coelho foi a Alice, lembra dela???? quase perdeu a cabeça...rsrsrsrs
Adorei muito, saudades gigantes de vc,beijoca Dine

Anônimo disse...

Essa é a história mais nonsense e hilária que eu já li!
HAHAHAHAHA!
Muito bom mesmo!
Tô me acabando!
:)))

Tatiana disse...

Oxigênio puro, Dine.
Muito oxigênio sempre me deixa assim.