domingo, 8 de abril de 2007

Minha Páscoa

Domingo de Páscoa.
Renascimento.
Meu Deus, renasço todo o dia, todo santo dia eu levanto das minhas cinzas, sacudindo a poeira que me arde os olhos, que me enche a boca e arranha a garganta, que me mancha as vestes.
Todo dia eu recomeço.
Já guinei miha vida 180° tantas vezes! Abandonei rumos, larguei futuros certos, amores instáveis, abandonei portos tão amados que quando olhava para trás, meu peito trincava de saudade.
Já me dei conta, subitamente, que eu não era a mesma mulher da noite anterior.
Já percebi que aquele beijo não me entorpecia mais. Outra boca era meu vício.
Já me dei conta que a vida que eu levava era de uma outra mulher, não aquela que eu me transformara, não aquela que eu me reconhecia olhando no espelho e, supresa demais para alguma reação, fiquei estática observando essa nova mulher que eu me transformara.
Nasci mil vezes.
Lembro de algumas vidas que tive.
Outras faço questão de esquecer, só me trouxeram dor e a dor não é minha melhor amiga. Eu somente a suporto. Mas não escolho ficar com ela e , mesmo assim, invade minha casa, entra na minha cozinha e deita ao meu lado na cama. Eu deixo mas não a afago.
Já levantei do chão com os joelhos ralados e meu orgulho ferido demais. Ter caído diante de todos, a vergonha da queda , a coragem de chorar em público e de seguir em frente.
Parir.
Ter meus gens perpetuados no mundo é uma forma de renascimento. Eles. Meus amores eternos. Eles. Meus filhos. A melhor canção que eu soube fazer. A mais grandiosa parceria. A nota perfeita que eu deixo no mundo e que se perpetuarão em outras notas e mais outras e ainda mais outras. E eu estarei ali, sempre ali por detrás de cada som.
Meu coração é um renascido. Todo estrupiado, coitado. Mas tão valente! Morro de orgulho de meu velho coração estrupiado e valente. Meu coração é um guerreiro que sofre em cada batalha perdida ou ganha. Meu coração é um guerreiro cheio de marcas e cicatrizes. Meu coração é um crente que ajoelha e olha os céus e sinceramente chora. Meu coração tem a fuligem do tempo mas tem olhos de menino. Meu coração a cada dia que passa, rejuvenece e medra. Mas continua com aquela certeza que só os jovens tem.
Meu corpo é a única prova que o tempo é um rio que jamais seca.
Meu corpo, abrigo de minha alma, é meu melhor amigo. Nunca mente. Nunca engana.
Meu corpo é realmente meu santuário. É nele que eu sinto. Sinto que as labaredas da paixão me queimam, me consomem. É nele que fica a marca da digital azul cravada em mim. Os dentes. Os vergões. As unhas. O peso dele. Tudo marcado no meu corpo0. É no meu corpo que meu presente se perpetua. Mas mesmo assim, meu corpo renasce, dilui as marcas, apaga o fogo, minha pele me obriga esquecer quando desaparece com o que foi agora. Ninguém fica para sempre marcado na carne. Ninguém.
Renasço todo dia. E agradeço aos deuses por ter, no meio da madrugada, algumas pequenas mortes.
Agradeço todo o dia por ter sonhos.
Por ter coragem.
Por ter fé.
Por ter a manhã encravada no olho.
Por ter a ternura na ponta dos dedos.
Por ter um fogo que me esquenta as coxas.
Por ter força para quebrar a casca do ovo.
Por ter um queixo duro e um coração macio.
Agradeço por ser uma renascida.
E para sempre serei.

4 comentários:

Vivien Morgato : disse...

minha querida, seu eterno renascimento é uma benção, assim como a intensidade de suas emoções que vc encara e vive.Isso faz vc ser Tatiana, certo?
grande beijo e muitas e eternas mudanças.

Sandra Maria disse...

Chorei!

Anônimo disse...

Bonito. Bonito mesmo.

Já dizia um cântico hassídico (alguma coisa do gênero): "é preciso descer muito fundo no poço para ter forças e subir novamente".

beijão

Anônimo disse...

Lindo, dona Tatiana!
:)
By the way: adorei seu blog!
Beijão!