terça-feira, 27 de março de 2007

O tempo


Tenho alguns minutos somente. Mínimos minutos. Agora é assim, tudo rápido. Se mandam uma mensagem pelo msn, tem que ter resposta instantânea, afinal estamos na era da velocidade. Tudo é à jato. Mandar cartas? Ter que esperar por dias uma resposta? Já não é mais possível. Temos e-mail, msn, orkuts, o computador mais rápido do oeste, o carro mais veloz, a conexão mais poderosa, tempo é dinheiro, tempo é um velho que ceifa a alma. Comida de micro-ondas. Creme instantâneo que levanta a cara ou a bunda. Produto que tira manchas. Tudo imediato.
Estamos no tempo do agora.

Até na relações tem que ser tudo rápido. Cala a boca e beija logo. Olhou, sorriu, comeu. Tá assim. Conhecer? Pra quê? Pra que perder tempo?
Colecionar beijos como quem tem amigos no orkut.
Beijei 443 meninos na festa? Nossa! Que loucura, eu sou mais seletiva. Só beijei 67.
Um cara aparece. Interessante ele. Troca-se alguns e-mail's, algumas mensagens e já se pensa: será que é ele?
Em segundos já dá para visualizar o futuro, a casa com cerca branca, os carros na garagem, as plantas penduradas, em dois segundos o futuro chegou.
Se rola aquela trepadinha descompromissada já e pensa em namoro, casamento, nas brigas, na terrível separação, da divisão dos bens e na dor, ah, a dor que sempre vem.
Melhor não.
Deixa eu ficar quieta aqui.
É tudo tão rápido.
E assim acaba aquilo que mal começou.

Não entendo isso. Por que tanta pressa?
Porque não se conquista mais? Aquele amor em banho-maria, conhecendo as poucos, um passo de cada vez?
Cadê as cartas trazidas pelo carteiro, aquela lembrança ali na mão, o cheiro no papel manuseado tantas vezes, a lembrança guardada na gaveta e sempre à mão?
Cadê o tempo como parceiro?
A comidinha sendo feita na panela de barro. Lentamente.
Tá tudo rápido demais.
Tá tudo correndo rápido demais.
E para que?
Para sobrar mais tempo para se ficar só.
Não entendo isso. Realmente não entendo.

Por favor, me mande cartas. Longas cartas cheias de carinho para que eu possa olhar a tua letra e decifrar teu coração. Se possível, coloque um cheirinho, o teu perfume. Só pra eu imaginar teu cheiro.
Por favor, perca comigo horas ao lado do fogão, as borbulhas cozinhando o tempo. Sem pressa. Sem agonia.
Me veja fazendo yoga. Longas pausas. Faça comigo longas pausas cheias de futuro.
Por favor, queira me conhecer. Aqui. No palco. Em casa. Chorando, rindo, sofrendo. Venha me ver brava, daquele jeito mesmo. Vem saber de mim. Calma por que é muita coisa.
Não cale a boca. Fale muito, gosto de ouvir. Me conte seus medos, seus sonhos, segure a minha mão e vá lentamente conquistando o território do meu pescoço.
Me seduza. Com palavras, com gestinhos tolos, com mínimos olhares.
Sem pressa, eu não vou fugir, não sair correndo por aí, não tenho mesmo para onde ir e , mesmo se tivesse, não quero ir só.
Deixa eu ver seu lado chato. Se eu suportar seu lado chato suporto todo o resto, porque amar o bom é fácil. Deixa eu amar o teu lado cinza. Respingo coloridos nele. Eu tenho tempo para isso.
Paciência.
Nós, taurinos, temos uma paciência infinita.
Vem comigo. Mas vem sem pressa.
O tempo é meu amigo e não se incomoda.
Vem.
Devagar e sempre. Mas vem!

5 comentários:

Thelma disse...

Tá tri-bonito este teu texto! E teu sentimento!

Vivien Morgato : disse...

exatamente isso é o que eu preciso aprender.
Tempo rei, oh, tempo rei...;0)

(Thelma, esses gaúchos falam tri-bonito!!!)

Unknown disse...

OLA!
Parabens!
Gostaria de convidalos para participar
do nosso portal www.zigbr.com coloquem
materias ,classificados,coloquem seus links
ficaremos muito felizes com vossa participação obrigado

Unknown disse...

Quem será o feliz companheiro desta bela cigarra, cheia de lirismo, neste mundo de formigas apressadas?
Quem será?

Clélia Riquino disse...

Acho qu'esta canção do Lenine vem ao encontro do que você diz:

Paciência
Lenine & Dudu Falcão


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando, cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára (a vida não pára não)

bjo,
Clé