A noite se resumiu a duas horas.
Meu sono todo espremido em duas horas.
Farra no meio da semana.
Vi um poeta. Se pudesse, levava ele, de baixo do braço, para as minhas duas horas.
Girei na roda na voz de Tião Carvalho.
Um cantador cantando o São Francisco.
Ri e ri e ri e ri.
O bom e velho City Bar.
Guinga tocando em minha cozinha. Eu e ele.
Minhas músicas na boca deles. Música deles em minha boca.
Piadas infames.
Eu xavecando um moço lindo , viado de tudo. Não adiantou nada, mas eu descobri que eu posso ser uma xavecadora muito criativa.
Destruição de bolachas salgadas.
Cachaça de alambique.
As horas escorrem e eu nem ligo.
Durmo abraçada a mim e durmo feliz.
Minha cama era a melhor do mundo nestas duas horas.
Aí o telefone toca as cinco e meia da manhã. Um bom dia para te fazer feliz, ouço.
Consigo sorrir e manter a classe, mas, no sono, confundo os tons de voz e dou a maior gafe matinal que uma mulher pode dar.
Vexame total.
Eu estava dormindo, pô! - tento explicar.
Não adiantou de nada.
Depois de duas horas de sono, ouço o maios sonoro vapáputaquepariu.
Desperto na hora e penso:
-Acho que esse não volta mais.
Duas horas.
A cama me chama.
Resisto.
Satanás em forma de cama.
Rezo um Credo e uma Ave Maria.
Só duas horas.
O relógio berra meu horário.
O ouvido zumbindo vapaputaquepariu vapaputaquepariu...
Poxa, eu troco os nomes dos meus filhos...
Um café forte que parece um murro na cara do sono.
O telefone toca outra vez.
Só para registrar.
Não vai me ver à noite e me mandou outra vez para puta que pariu.
A cama me olha, eu olho para a cama e damos uma sonora gargalhada.
Hoje o dia promete.
Penso em comprar logo a passagem para a tal Puta que Pariu.
Mas sabe o que mais?
O moço não tem senso de humor e aprendeu uma lição:
Nunca ligue para uma mulher antes das nove da matina.
Nunca!
Jamais!
Puta que Pariu, lá vou eu!!