sábado, 27 de janeiro de 2007

Eu e meus demônios


Sou uma pessoa boa, tenho um humor quase inquebrável, sou alegre, sou massa, sou do bem, mas eu posso ser o cão de calçolão chupando manga na jaqueira.
Isso não acontece todo dia, não acontece toda hora, nem por qualquer bobagem, mas quando acontece, quando eu sinto minha nuca esquentar e minha mão esfriar, um levre tremor passando por minhas costas, eu penso vai dar merda e fico rezando que ninguém me fale nada, que ninguém derrube aquela minúscula gotinha que transborda meu equilíbrio, porque depois que foi, não dá mais para voltar atrás. E se eu perco a cabeça, eu perco a cabeça mesmo.

Sou taurina e acabo de descrever um ataque de ira típico do signo. Sou aquele touro Reginaldo, aquele touro da Disney meio boiola que passava as tardes cheirando flores até que alguma coisa incomodava e ele virava outro ser.
Essa sou eu.

De todos os Pecados Capitais é com a Ira que eu mais me preocupo. Ele seria o meu pecado capital, aí está meu tendão de Aquiles, certamente. E já tive que me trabalhar muito para segurar essa energia vermelha que sai de mim porque tudo tem um preço e eu paguei vários. Tenho três pontos nas costas de um corte de canivete em uma briga entre times femininos de handball (uns mimos de moças), dois na sobrancelha em um pequeno e rápido atrito com um negão durante um carnaval da Bahia, muitos dedos tortos, muitas histórias vergonhosas e uma fama que me acompanha até hoje. Comprava as minhas brigas e as brigas dos amigos, batia e apanhava por mim e pelos meus.
Mas um dia eu decidi que iria mudar minha vibração. Essa coisa assim guerreira fica fora do lugar. Se é para brigar que seja pela briga certa.
Aí fui aprender a controlar a tal Ira, fui descobrir de onde vinha essa coisa horrorosa que me fazia esquecer que eu era, lá no fundo, uma dama. Bem no fundo.
Parei de fazer karatê porque em vez de me ajudar, só piorou. Parei com esportes de contato físico, parei de andar com aqueles amigos esquentados e briguentos que me garantiam as costas, comecei a meditar, a rezar, a me espiritualizar, resolvi mudar de vida.
Deu certo e hoje raramente saio por aí batendo as cabeças em postes, só em casos assim excepcionais, casos extremos mesmo.
Mas ainda sinto aquele calor na nuca e aquele frio nas mãos. Ainda percebo que tenho aquele demônio dentro de mim, suas unhas afiadas tocando minha testa e me fazendo ver tudo vermelho. Tem uma coleira no pescoço e uma fucinheira, mas continua sendo o mesmo demônio de sempre, só que preso. Mas ele rosna, ele ameaça, ele mostra os dentes. Ele se faz ver e ouvir.
E eu grito: quieto! junto!
E ele se senta ao meu lado, resmungando, e coloca em minha boca palavras muito, muito duras, penetrantes como punhais, doídas como toque de chibata. Rápidas, em borbotões, certeiras e eficientes.
Tenho a esperança que com o tempo até isso se transforme, mas enquanto isso não acontece, me deixe quieta, não me provoque assim, sem necessidade. Puxe meu melhor lado, chame meu anjo, não meu demônio, porque eu não posso garantir se consigo segurar a corda que o prende.
E se não quiser ver meu pior lado, não me provoque!

9 comentários:

Anônimo disse...

Meda!

Anônimo disse...

Ouvi e reouvi o Ao Vivo nesta tarde de chuva. Quem sabe vou até a Confraria...
Loura?
Cuide-se.
Beijos
Ronaldo Faria

Carô disse...

Tati querida, tô rindo muito porque conheço bem esse seu touro :D
Mas minha amiga, você tem mesmo "vaga lembrança" no lugar da memória. Não é Reginaldo, é Ferdinando!!!! hahahahahaha
Beijos,
Carô

Tatiana disse...

ahahahahha
HAHAHHHAHA
Essa sou eu!
Ferdinando?
hahahhahha

Vivien Morgato : disse...

Esse seu lance de "ver vermelho" acaba dando em posts incríveis...rs

Anônimo disse...

Graças aos Deuses só conheci seu lado Ferdinando!
Ui! Escapei de uma boa!
Mas pra falar a verdade gostaria de te ver rodando " a baiana", principalmente quando lembro: "cabeça poste,cabeça poste!" ri muito!

Anônimo disse...

"anônimo" de cima sou eu
Liris Letieres
Valha-me o santo da internet! Um dia eu aprendo a me dar uma identidade!

Tatiana disse...

Não é legal de ver um momento desses.

Anônimo disse...

Ai, Tatiana. Não sou taurina, mas também tenho um demônio brabo em mim. Até os sintomas são os mesmos, o calor na nunca, o tremor, a mão gelando... Mas ele nunca conseguiu me fazer bater me ninguém, acho que porque sou muito pequena e fraca. Só que... aff... quanto às palavras duras, valha-me Deus! Desconjuro!