domingo, 5 de novembro de 2006

Quando eu abri as portas, empurrei para longe a sujeira do tempo, voltei a ver o que, de mim, tinha abandonado.
Andei por corredores longos e iluminados, pela fresta de vidros quebrados, raios de sol iluminavam meu breu e eu sorri, feliz.
Arrastei móveis, tireis pás e mais pás de lembranças esquecidas e escondidas, tirei pó, coloquei flores nos móveis lustrados, sentei e bebi na taça da vida todos meus sentidos.
Fiz festas! Dancei e suei com todos os poros repletos de delícia e gozo. Ri de mim e da vida, abri os braços para que o sopro primeiro entrasse por minhas entranhas e , sorrindo feliz, me joguei no chão, exausta de tanto viver.
Saí e enconstei a porta, sem fazer barulho, sem fazer alvoroço. A alvorada brilhava em meu peito e caminhei outra vez pelas calçadas anônimas, voltando para a velha rotina.
Mal sabia que por sobre meus ombros, sentava-se um pequeno demônio. Um serzinho cheio de luxúrias, um filho de Baco ou Eros. Uma criatura mais antiga que minha memória, mais velho que o tempo que eu posso contar, um filhote de Vênus.
E hoje, por onde eu ando, me sussura indecências, me sugere impropriedades, lambe minha orelha, me arrepiando a nuca, me futuca por baixo da pele, arranha minha pele que arde, arde , arde.
E o danadinho me assopra a face e se ri de mim.
Agora a casa sou eu e é ele que tira minhas teias e limpa meu pó, abre minhas janelas da alma, lustra meu couro com líquidos perfumados e, dentro de minhas pagãs entranhas, retumba altas canções que, vibrando na minha pele, me fazem tremer.
Eu sou uma casa onde mora um pequeno demônio.
As chaves desta casa estão no seu bolso, ao alcance de tua mão, meu querido.
Abra as portas e me diga boa noite.
Mas não seja tolo de exorcizar meu amado demônio. Não carregue correntes, não o tranque por detrás de grossas grades. Ao contrário, coloque mais um lugar à mesa e se farte de nós.
Depois abra as portas de sua casa e nos deixe invadir sua tranquilidade. Trago panos lustrosos e vassouras novas. Músicas brotam de mim e eu e meu querido demônio cantaremos para você as mais doces canções de amor. Acenderemos todas as luzes, tocaremos alto, tambores em seus ouvidos. Quem sabe, com sorte, acordaremos o seu pequeno demônio adormecido.
Quem sabe?

9 comentários:

Anônimo disse...

U*m te*xto tes*ao!

Anônimo disse...

Eta porra, esse feriado foi realmente...de morte!

Tatiana disse...

Quem não tiver um pequeno demônio, que jogue a primeira pedra.

Anônimo disse...

2 coisas pra te dizer...
Palmas!! e "FLA FLA FLA"!!!
muito bem, minha amiga...
o caminho é esse mesmo...
e vamos fazer mais canções q depois dessas 2 últimas, ótimas, eu tô assim, ó!

marcio castro disse...

eita tatiana.

que disse que temos que ter medo de demônios?

viver com os demônio no corpo. as vezes estes instintos me fazem a cabeça.

quero acordar o demõnio dos outros também.
será eu endemoniado?

Anônimo disse...

Além que alimento, compreensão e sintonia. Muita sintonia para alimentar os sentidos...

Anônimo disse...

Oi Tatiana Rocha...

Rsrs, me lembrou o Sérgio Malandro cantando a música : conheci o capeta em forma de Guri...

se existe anjo do mau deve existir demônio do bem ( ou to falando besteira)? Porque pelo que seu texto e seus poros dizem, esse capetinha tá te deixando ó, ó!

Anônimo disse...

demônios não são bons nem maus. somente são.
existem soltos por aí, nos vãos da alma, nas esquinas dos segredos. vivem simplesmente sendo o que simplesmente são.
esse demônio me parece muito bom.
só precisa aprender a ficar no seu devido lugar.
mas isso eu ensino.
Tatiana

Anônimo disse...

Aos nossos anjos e demônios, filhos dos nossos céus e infernos de cada dia... Sorte de quem te abrir a porta.
Cuide-se.
Beijos
Ronaldo Faria