sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Revelações em gotas homeopáticas


Engraçada esta vida da gente. Eu tinha tudo pra estar muito chateada por ter que ficar cuidando de casa, além de correr atrás de meu dinheiro, de minha vida, de meus planos traçados.
Mas não é isso que acontece. Sim, to cansada, minha mão tá medonha, minha finesse está se esvaindo aos pouquinhos, me sobra pouco tempo para o ócio, mas eu está me fazendo muito bem cuidar destas coisas que eu não fazia mais.
Um ritual diário, rito de limpaza, de transformação. E sempre regada à melhor música possível. Lavei banheiro ouvindo Guinga na voz de Leila Pinheiro. Aliás, a melhor coisa que ela fez foi cantar Guinga, de resto, não me emociona. Varri, passei pano, lustrei chão ouvindo Gil, estendi roupa no varal ao som de Clara Nunes. Me fez muito bem sentir aquele cheirinho de limpeza, aquele ar de arrumação, eu ali, sambando agarrada à vassoura, os cachorros bailando à minha volta, as plantas pareciam que estavam felizes também em me ver daquele jeito.
A casa toda era meu estado de espírito e ela agradecia eu estar dando a vida quando eu mesma assumia os cuidados. Tenho certeza absoluta que uma casa é uam entidade à parte. Sente, vibra, reclama e chora. Hoje minha casa cantarolou comigo. As roupas todas sacudiam penduradas no varal e pareciam dançar um coreografia lenta e sincopada. Arte pura do movimento.
Vânia Abreu canta agora canções simples, sem grandes novidades e me traz a paz que eu gosto.
Solidão é bom e minha casa é um óasis de solidão feliz.
Hoje à noite o filhote volta de viagem, fazendo bagunça, derrubando coisas, espalhado brinquedos, um ciclone cheio de histórias e novidades mas eu sei que no olho daquele furacão tem a mim e essa casa.
Sabe...to sem tempo, to sem dinheiro, mas to feliz. Aquela felicidade morna que dorme no peito e quando se espreguiça me faz rir sozinha, me faz gargalhar do salto acrobático do gato, uma felicidade feita só do meu cotidiano tão simples e tão comum que eu esqueci de perceber nos últimos tempos.
Realmente, felicidades é feita de horinhas de descuido.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sabe Tatiana, eu venho ler seu blog com a frequência que me é possível. Mas fiquei surpreso com a foto que vi no post anterior. Eu fazia uma idéia totalmente diferente de como era. Como já li que é baiana, imaginava você, grande como mesmo diz, contudo uma mulata com cabelos cacheados. Só que na foto percebi que essa mulher forte que se apresenta, talvez seja só impressão, também tem uma certa fragilidade feminina. Não que isso seja ruim, mas acho que é o destempero necessário para torná-la humana.
Desejo muita sorte para você.

Robson Novais

Anônimo disse...

Que todos os cotidianos da vida fossem assim: uma descoberta da alegria e de si. O tédio morreria de inveja e seria enterrado para sempre.
Vou ver se aprendo a ser assim também.
Ronaldo

Anônimo disse...

Tati, Feliz Ano Novo pra vcs. Adorei seu texto. Realmente são nas pequenas coisas como estas que sentimos felicidade, aconchego e carinho.


PS: Em Vinhedo tem dois bares novos procurando por música boa. Vou ver o fone e te passo por email ok?