segunda-feira, 19 de setembro de 2005

HISTÓRIAS DA MAMÃE

Cada um tem a mãe que merece. E cada um fica de um jeito porque teve a mãe que teve.
No meu caso, muito se explica quando se conhece minha santa mãezinha.
Uma mulher diferente das outras, uma mãe pouco ortodoxa.
Para se ver, quando eu estava pensando no que fazer no vestibular veio com essa:
- Faz teatro! Você é tão expressiva...
Outras mães falariam: filha vai fazer direito, medicina, arquitetura.
Mas a minha mãe não! Teatro!

Quando mudamos para Salvador, lá pelos idos de 1970 e bolinha morávamos em uma casa
que o quintal dava para a área de serviço dos apartamentos do prédio ao lado. E todo dia minha mãe catava lixo que os moradores jogavam em nosso quintal. Papel higiênico usado, casca de frutas, ossinhos de galinha. Tudo!
Minha mãe, muito delicada, conversou com o síndico que disse: empregada é foda...e não fez nada!
E minha mãe se irritando. E xingava o povo toda vez que apanhava a sujeira e ouvia as vozes dos apartamentos rindo e dizendo: a carioca tá nervosa... tá doidcha!!
Minha mãe putíssima.
Até que uma manhã acordou do avesso e deu de cara com toda aquela sujeira de novo. Não contou conversa. Foi lá no quarto, abriu o armário e pegou o revólver 38 do meu pai e foi pro quintal.
Com a mão na cintura, apontando o revólver pro céu, berrava:
-Quero ver quem vai ser o filho da puta que vai jogar um cisco aqui!!!!
La de dentro se ouviu uma voz berrar:
- Tá nervosa, santa???
Minha berra de volta:
-Se é mulher, mete a cara aí nesse muro, sua filha da puta!!
Um monte de carinhas apareceram. E quase caíram para trás quando minha mãe deu três tiros pro alto, quase ela mesma caindo pra tás com o coice da arma.
- O próximo lixo que eu pegar aqui eu mato um! Peixeira é o cacete! Eu mato na bala! Eu furo todo mundo!
E ficou lá berrando, rodando no jardim com a arma na mão, parecia que tinha encorporado a Maria Bonita. Só faltava o chapéu de coro.
Deu uma confusão dos diabos isso, foi zelador correndo pra ver, síndico pedindo peloamordedeus que ela guardasse a arma, empregada gritando que a mulher emaluqeceu, desvairou, chama a polícia!!!!!Um inferno!! E nós, as crianças, morrendo de medo que ela tivesse enlouquecido de vez mesmo.

Mas resolveu a questão. Ninguém, nunca mais jogou um papelzinho no nosso quital.
E minha mãe ficou com fama de maluca, desvairada, assassina em potencial.

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