terça-feira, 15 de novembro de 2005

Tem gente que acha que estas histórias todas que eu conto aqui são invenção da minha cabeça doentia. Algumas são mesmo, confesso, mas algumas são verdadeiríssimas e eu me pergunto: porque atraio maluco como cocô atrai mosca?
Fui tocar no Deck, lá em Sousas na véspera do feriado. O bar, nem cheio nem vazio. Um conhecido aqui, outro ali, alguns amigos chegando aos poucos para acabar a agonia de Silo que foi sozinho só para me acompanhar.
A noite passava como sempre. Eu enchendo a cara de guaraná porque o estabelecimento é herege, não tem coca cola, as pessoas rindo e se divertindo enquanto eu camelava. Normal.
Determinado momento um cara apareceu na minha frente, pediu que eu desligasse o microfone ( opa! tem coisa aqui) que ele tinha uma coisa muito séria pra me falar.
-Pode falar que não sai nas caixas não.
O cara falado baixinho, sussurrando mesmo.
- É o seguinte: tá vendo aquela cara ali de camisa listrada?
Nem olhei mas disse:
-Sei, o que que tem?
- Ele me mandou te dizer que há oito anos era apaixonado por você, essa paixão durou um ano. Ele era casado a 23 anos e hoje te encontrou aqui...
Eu juro que eu nunca vi aquela pessoa!!!!Nunquinha.
O que se diz nesta hora? O cara da camisa listrada estava se engalfinhando com uma moça, se tinha paixão era por ela e o que que eu posso dizer, minha Nossa Senhora?
Disse a frase mais neutra possível.
-Que coisa, né?
-É.
-Pois é.
-É.

Caralho, isso aqui vai dar merda. Uma mesa com um garoto de recado, um bêbado que se dizia apaixonado no passado, uma mulher sendo feita de besta e um outro que só olhava, olhos estranhíssimos. E Silo, de pavio curtíssimo, na mesa sem perceber a tensão que se instalava.
Dei um intervalo. Só faltei sentar no colo de Silo. Ó, meu filho, eu to acompanhada, fica na tua e eu fico na minha, dizia a linguagem corporal. Ele se fazia de cego e eu sentia agulhadas na minha nuca.

Voltei a tocar e o garçon me traz um bilhetinho, todo dobradinho, escrito no guardanapo. Acho que levei dois segundo para ler o que estava escrito, minha mão suava e a pasta começava a escorregar da estante, eu já estava ficando estabanada. Típica reação nervosa. Vai dar merda essa merda, pensava, pessimista.
O cara de listra passava na minha frente e eu não olhava para ele. Voltava do banheiro tentando o contato visual e eu olhava para outro lado. Fez careta, mandou beijo, mostrou a língua e eu, impávida, não olhava direto só percebia as micagens pela visão periférica.
O grupo era barulhento, falando alto a tal história da tal paixão, oito anos, meus queridos, oito anos!!! E eu grudada na cadeira, cantando sem parar, cada vez mais rápido. O nervoso derrubou meio copo de guaraná no bilhetinho. Melhor.
Outro intervalo. Se ele estivesse parado na minha frente com aquela cara de tarado eu não podia parar e criar a oportunidade do maluco vir falar alguma coisa. Vou fazer xixi nas calças já já e o lazarento não sai da minha frente, peloaordedeus, vá agarrar a moça que tá com aquela cara de tacho de dar dó.
Deixa eu sentar aí do seu lado, Silo. Não, quero sentar do seu lado, Silo!
Aí chegou o segundo bilhete. Filho da puta, tá lá com a moça e fica me mandando bilhetinho cheio de graça. Vai dar merda este negócio. Só falta a mulher querer dar uns sopapos em mim!!! Como é que eu explico pro Silo o porque a mulher tá batendo em mim???? E se eu contar o que está acontecendo, vai sair porrada aqui, o bar é de amigo, estraga a noite que tá boa, Silo perde a oportunidade de tocar aqui também...vai ser uma cena der sangue no bar na avenida São João!!! Ai...caçamba, viu? Outro bilhete ainda mais melado, cheio de promessas e declarações etílicas.
Passei a noite toda fugindo do homem, do amigo que queria porque queria que eu olhasse pra mesa deles, todo mundo muito bêbado e eu, exausta, querendo ir pra casa e acabar logo com aquele pastelão mas não queria acabar de tocar porque se eu parasse o maluco, que continuava em pé, me encarando, viria cheio de amor pra dar. Meia hora além do programado e eu lá pela janela do quarto pela janela do quarto pela tela pela janela quem é ela quem é ela eu vejo tudo em quadrado remoto controle. O garçon já me olhando meio de viés porque ele também queria ir embora e eu não parava de tocar. Só paro quando eles forem embora!
Teu mal é comentar o passado ninguém precisa saber o que houve entre nós dois...Eles nunca mais vão embora!!!! O gerente já me olha torto também. Eu tava triste tristinho mais solitário que um paulistano que um vilão de filme mexicano mas ontem eu recebi um telegrama era voce de Aracaju ou do Alabama.
Ou eu paro agora ou faço xixi aqui. A voz mais rouca que o normal, a bunda doía, o menisco maltratado reclamando, a bexiga explodindo, o garçom me olhando feio. Meu coração tropical está coberto de neve mas ferve em teu cofre gelado a voz vibra e a mão escreve mar....
Esperei o taradão ir ao banheiro, no meio da música, muito obrigada gente até a próxima, desliguei o som, sentei na mesa com Silo e fiquei suando frio, esperando o maluco tarado voltar do banheiro para eu poder ir.
Finalmente a grupo partiu e eu, mais aliviada, contei pro Silo o que tinha acontecido.
-Porra, por que você não me avisou?
- Porque eram três homens, todos bêbados e eu não queria estragar a noite! No final deu tudo certo, não deu?
- É. Deu sim.
Aquele jeito assassino aparecendo pelo canto do olho.

É verdade, no fim deu tudo certo, mas que eu passei maus bocados, ah, passei.
E cheguei a conclusão que homem é uma bosta mesmo.



6 comentários:

Anônimo disse...

Há muito tempo não me divertia tanto lendo alguma coisa...

Achei seu blog numa comunidade no orkut!

Dificilmente, se você tiver tempo, vai se divertir lendo o meu blog, já que eu ando numa fase meio melancólica.

Mas se você quiser tentar, será bem-vinda!

PS.: E eu que achava que essas coisas surreais só acenteciam comigo...

Anônimo disse...

Ainda bem que eu esqueci e não fui te ver cantar! Senão teria pegado a coisa no ar. Eu sempre percebo quando não é comigo, hehehe. E aí teria comentado com o Silo, porque a camaradagem masculina é 100%. Agradeça aos céus porque eu não estava lá também, hehehe. Ah, e veja a tua entrevista nos meus dois blogues!

Anônimo disse...

Acabei de ler a sua entrevista feita pelo Bruno. O que vou dizer? Você é demais! Quando eu crescer quero ser você. Autêntica, sincera, bem-humorada, inteligente...

Anônimo disse...

Ai Tati, vc e seus "causos"... são sempre de rachar de rir.
Vc já pensou em lançar um livro? Deveria...

Anônimo disse...

Post longo e eu gastei os meus minutos comentando o post anterior, o do concurso.

Minhas desculpas.

Anônimo disse...

Ô! Não desconte em todos!
Que perrenge!