domingo, 19 de abril de 2009

Foi bonita a festa, pá

E foi mesmo.
Um sábado no meio de um feriado que deixou a Casa São Jorge cheia, mas não socada de gente. Estava do jeito que dá pra se divertir e curtir sem aperto.
Fazia tempo que a banda toda não se reunia, desde a época dos shows do Cantanças. Na chegada, um festival de abraços e saudades viris masculinas. Saudade de verdade. Não só da pessoa, mas uma saudade de estar no palco. Juntos!
Vamos fazer essa bagaça sacudir!
Não sei ao certo o que é possível perceber quando se está de fora do palco, mas lá em cima, lá no mioliolinho do palco onde estávamos, o que mais transborda é a satisfação de estar, todos juntos, fazendo um som que a gente curte. Uma felicidade de poder baixar o braço, soltar a voz, fazer o som que quiser, o repertório que quiser e o público que está ali na Casa São Jorge absorve esse tipo de música. Não é todo lugar que é possível fazer isso tudo de uma vez.
Eu adoro as pessoas que estão tocando comigo. Adoro os músicos que são, mas adoro ainda mais as pessoas que são.
Olhar pro Negão, botando pra quebrar no baixo, a cara dele de satisfação, as risadas e as piadas. Negão (Felipe Fidelis) é o cara que me diz: se encresparem com você, me chama que eu resolvo. Mesmo achando que isso não será necessário, dá uma certa tranquilidade ter um negão porta de armário, imenso, todo musculoso e com cara de mau perto de você disposto a quebrar um em sua defesa. Sem falar que é negão e está no baixo, ou seja, dá um molho no som que só negão tem. Negão é foda.
Samuel é um dos caras mais engraçados que eu conheço que não faz força nenhuma para ser engraçado. Ele é assim. Um tremendo de um músico! Uma saudade do cacete de tocar com ele, de seus solos endemoniados e de seu jeitinho caipira de Piracicaba. Um fofo. Muitas vezes não entendo nada do que ele fala, mas a gente se entende muito bem.
O João Paulo é outra cara muito divertido, morro de rir com suas bestagens e acho que ele tem uma elegância do cacete. Sua música é elegante, o que ajuda em muito ao som que eu faço ficar mais elegante. Eu estou ali cantando, me acabando e é ele que faz a direção do palco, o cara que dá as coordenadas pro resto da banda, que orienta. Foi ele que me apresentou o Samuel e o Felipe e eles já tocam juntos a muito tempo. Ou seja, rola um sintonia.
Bruno é quase irmão, né? Impressionante a intuição musical que ele tem. Ele saca o que vai rolar, antes da coisa rolar. Entende. Intuição mesmo e uma memória impressionante. Já faz bastante tempo que tocamos juntos, gravou comigo o segundo cd e o dvd, estava no Cantanças...tá por dentro do som. Meu ursão querido do coração.
Uma banda dessa, que faz um som que eu adoro, que eu adoro também só papear, jogar conversa fora, rir, uma banda de amigos...poxa, só pode ser bom demais trabalhar assim.
Eu, absolutamente feliz com a turma reunida. Eu poderia ter tocado mais uma hora se meus pés não estivessem tão doloridos e eu não estivesse exausta. Porque eu fiquei exausta. Se é pra cantar, então a gente vai cantar. Se é pra deixar o povo doido, a gente vai deixar esse povo doido. Se é pra dar a alma, a gente vai dar a alma. Eu dei e depois senti no couro. Realmente cansei porque dei tudo que eu tinha. Só assim vale à pena cantar.
Os queridos que foram ver o show. Muitos. Muito bom vê-los ali, fazendo a festa, dançando, despirocando junto com a gente.
Os bêbados, os taradões de plantão, as loucas, as ciumentas, os boêmios, tudo ali.
Devo confessar que eu amo essa vida. Pode ser difícil, pode dar vontade de largar tudo e virar balconista de shoping, mas tem horas que a gente pensa que foi pra isso mesmo que Deus mandou a gente pra esse mundo. Pra ser cigarra em mundo de formiga, pra alegrar esse povo todo, pra fazer dançar, pra fazer cantar, pra ajudar a esquecer as mazelas da vida, o amor perdido, a falta de grana, o tédio que corrói a alma.
Cada músico que estava ali no palco estava fazendo a sua missão na vida e, podem ter certeza, essa sensação é uma das coisas mais maravilhosas desse mundo. Fazer sua missão nessa vida e perceber isso é uma benção e a gente só tem que agradecer.
Obrigado, gente!







Uma facilidade: a letra da música porque é realmente difícil entender. hahhahahahahah

Baião de Lacan
Guinga

Composição: Indisponível

A terra em transe franze
Racha pela beira
Feito cabaço de freira
Solta e lá vem um!
Mas o Brasil ainda batuca na ladeira:
Bafo, Congo, Exu, Taieira
Mais Cacique e Olodum...

Deus salve o budum!
Viva o murundum!
E é tuntum, e é tumtum!

Eu ouço muito elogio à barricada
Procuro as nossa por aqui
Não vejo nada
Só tomo arroto
E perdigoto no meu molho
Se tento ver mais longe
Tacam o dedo no meu olho
Quem fica na barreira
Pode até ficar roncolho
Um empresário quis
Que eu fosse a Massachutis
Oquêi, my boy! -
Cheguei pra rebentar e putz!
Voltei sem calça e um quis me seqüestrar...
Ao conferir o saldo
No vermelho fui parar
To com João Ubaldo:
Chega dessa Calcutá

- Eu to Amil por aí
Atleta do Juqueri
Um sócio a mais da Golden Cross
De carteirinha...
Tanto sofri nesse afã
Que um seguidor de Lacan
Diagnosticou stress
E me mandou pra roça descansar...

Eu fui pro Limoeiro
E encontrei o Paul Simon lá
Tentando se proclamá gerente do maufá...
Se os peão não chiá
O Boi Bumba vai virar vaca

Um comentário:

Lígia Moreli disse...

Tati
Sei bem o que vc está falando. Adorava cantar ali na Casa São Jorge. Não ganhava porra nenhuma, mas me divertia à beça, porque é um espaço onde vc pode mandar o lado B e o lado C que niguém te enche o saco.E o melhor: o povo ainda gosta. Ouvindo teu relato, senti saudade de minhas cantorias por lá, e de estar com banda, que é do caralho, tem uma energia diferente de se estar só com violão e voz. Pena eu não ter ido. TEnho certeza que foi maravilhoso.
Beijos, saudades!