quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

10° Concurso Maldito - Tema Decadência

Era filha de uma mortal e um deus que um dia fora banido dos céus.
Nunca fora bela.
Nunca fora bondosa.
Nunca tivera um toque macio ou uma voz aveludada.
Por isso rostos se viravam quando passava, crianças eram cobertas para que não sofressem das suas influências.
Não era amada nem respeitada. Era somente temida.
E esse temor era tanto que começou a ser alardeado aos quatro ventos que, marotos como eram, levaram ao Trono Celeste os terrenos rumores e sua terrível fama chegou aos ouvidos do Deus dos Deuses.
O Todo Poderoso resolveu convocá-la para uma reunião e confrontar poderes.
- Quem és?
- De Decadência me chamam. Sou filha daquele que o nome foi apagado e daquele que virou pó.
- Por que teu nome assusta mais que o meu que sou o Deus dos Deus?
- Porque sou o inevitável.
-Sim...Para os humanos talvez.
- Não. Para todos. Até para ti. Porque sou amante do Tempo. Com ele entrelaço pernas e destinos e corto os fios. Sou quem antecede o fim. Sou quem abre caminhos para a Velha Morte. Como disse, sou o inevitável. Por exemplo, neste exato instante, escrevo teu declínio e e fecho as cortinas do teu espetáculo. No meio de nossas palavras já se sente no ar o cheiro do teu passado e em pouco tempo serás somente um nome antigo na boca de poucos. Nossa hora chegou. Precisa partir para que outro tome teu lugar, um que será chamado em várias línguas, um que tomará teu lugar e milhares de pães surgirão, milhares de milagres, milhares de templos com novo nome santo escrito em ouro ou em sangue. Já ouço as trombetas anunciando os novos tempos que passam tão rápido. És só mais um nesta grande história. E se serve de consolo, esse novo que surge também será. Tudo é uma questão de tempo. Porque eu sou a amante do Tempo e a auxiliar da Morte. E digo, todos os deuses caem para dar espaços a outros. Menos eu, o Tempo e a Morte.

E Decadência saiu pelos portões do castelo carregando nos braços um saco de ossos iluminada por uma estrela cadente que cortava os céus e indicava um local de nascimento e glória.

12 comentários:

Anônimo disse...

... texto da gente ficar um tempo com a mão no queixo e pensar: até os deuses decaem um dia!!

Grande abraço, Tatiana!

Anônimo disse...

Wow, fantasia, que coisa boa! adorei o texto. é cheio de música nas entrelinhas. bjs

marcio castro disse...

não sei o que escrever... taí...

essa personificação ficou muito boa, e fugiu do babaca e do moralista... boa. boa.

Anônimo disse...

FODA³.

Ganhou de novo...

Hors concours, meu!

Anônimo disse...

Deuses e homens nunca foram muito diferentes...

Vanessa Anacleto disse...

Idéia original, danada...

Anônimo disse...

Recebi teu recado e fiquei surpresa porque acabei de fazer este blog!!!
Muito obrigada por tuas palavras.
Aquilo lá é um local para eu lavar a minha alma, sem preocupações, sem regras, sem controle. Se eu quiser falar indecências, falarei. Se eu quiser chorar, chorarei!
Sem pudores e sem travas!!
obrigada por tua força!

Tatiana disse...

Bom texto.
Mas podia ser mais suscinto. O que acha?

Anônimo disse...

amei!

Tatiana disse...

não faço correções no texto. sai d euma vez só e as vezes pode sim ficar meio prolixo.

O empírico disse...

Sinceramente? Nem gostei tanto assim do começo... ,mas as partes finais! Putz... Ganhou o texto todo! Parabéns, essa idéia de fantástico é sempre ótima para ser explorada!!

Douglas Evangelista disse...

O tema parece coisa do Neil Gaiman, do Sandman, sabe?

Tive um déja vu, mas um dos bons.

Beijo.